Atendi, certa vez, um homem chamado Adriano (Nome fictício) que tinha um senso de obrigação de ajudar um irmão, vamos chamá-lo de João, que nunca conseguiu independência financeira. Os dois tinham uma pequena diferença de idade. Adriano, desde que era criança, assumia responsabilidades em casa. Sua mãe não lhe dava muita moleza. Guardava até certa mágoa das pressões que sentia.
João, por sua vez, era superprotegido e cresceu sem ter que passar por muitos desafios. Hoje mora de favor na casa de uma senhora que lhe dá o sustento básico e é conformado com a situação. Sempre encontrou, de uma forma ou de outra, alguém para lhe dar pelo menos o essencial, sem que ele tivesse que fazer muito.
Ao ver a situação atual do irmão, Adriano sentia um desejo de ajudá-lo. Investigando um pouco, fomos descobrindo sentimentos conflituosos. Em parte, queria ajudar João, em parte sentia raiva e se perguntava por que é que ele não se vira sozinho. Na verdade ele não tinha qualquer tipo de obrigação em ajudar, mas sentia um misto de pena e tristeza pela situação do irmão, além de um sentimento lá no fundo de que ele tinha, sim, certa obrigação.
Vemos isso acontecer o tempo inteiro nas relações familiares. Pessoas que se sentem responsáveis pelos outros. Isso sempre acaba gerando um conflito emocional. Se não ajudam sentem culpa, pena e tristeza. Se ajudam, acabam ficando com raiva, sentem-se explorados. Em muitos casos, passam a cobrar, infernizar e tentar controlar a vida do outro querendo ele comece a agir por si só para que deixe de ser um fardo.
Quando um bebê nasce ele é cem por cento dependente dos adultos. Todas as suas necessidades precisam ser providas pelas pessoas que estão como seus responsáveis. É natural que seja assim. O adulto tem o dever de prover alimento, conforto, limpeza, carinho, abrigo e todos os tipos de cuidado para o bem estar da criança. Nada mais óbvio.
Entretanto, na medida em que a criança vai crescendo, gradativamente ela deve aprender a cuidar de si mesma até que vire um adulto independente. E os adultos devem ter o discernimento adequado para ir aos poucos soltando a criança para que ela cresça.
O que ocorre muitas vezes é um prolongamento nocivo e desnecessário, onde os pais ou outras pessoas continuam assumindo o papel de responsáveis pelo bem do outro. E isso traz muitas consequências negativas.
O protetor fica sobrecarregado, o protegido não cresce. A partir daí vão surgindo mais sentimentos negativos em torno da questão. O protetor desenvolve um sentimento de que ele é necessário além do que deveria e se apega a isso e não quer perder esse papel. Ao mesmo tempo, uma parte sua sente raiva da sobrecarga e culpa o outro, consciente ou inconscientemente. Estabelece-se um jogo de dependência e cobrança.
O protegido, por sua vez, desenvolve uma autoestima baixa, um sentimento de não ser capaz de cuidar de si próprio, fica dependente do protetor e, ao mesmo tempo, pode desenvolver uma raiva por não ter sido lhe dado a chance de crescer com suas próprias dificuldades. Sente-se, também, muitas vezes manipulado pelo protetor.
É importante deixar que as pessoas passem pelas suas dificuldades para que elas possam se desenvolver plenamente. Todas as vezes que fazemos algo pelo outro que ele poderia fazer por si só, ainda que com certa dificuldade, estamos causando sérios problemas para nós e para a outra pessoa também. Um recém-nascido tem que ser vestido pela mãe. Já uma criança de cinco anos pode ir aprendendo a se vestir sozinha, mesmo que não seja fácil para ela. Existem pais que fazem as tarefas escolares dos filhos, fazem o prato e cortam a carne para eles (Mesmo quando já têm 10 anos de idade), dão banho em uma criança que já tem condições de tomar banho sozinha…
E tudo isso é feito em nome do amor. Para evitar que o filho sofra. Mas o que se passa com isso são mensagens de que o filho não é capaz. É tirado dele a oportunidade de passar pelo “Treinamento” que a vida oferece no dia a dia. Sem esse treinamento nos tornamos pessoas fracas e dependentes.
Pessoas que são criadas dessa forma tendem a se relacionar com outras que têm a necessidade de ajudar pessoas fracas dependentes. Estas são pessoas aparentemente fortes, mas que no fundo são dependentes emocionais. Para se sentirem fortes e úteis precisam de alguém com o perfil do fraco.
É interessante observar como os dependentes conseguem encontrar pessoas que fazem o papel do protetor. A necessidade emocional de um se encaixa com a do outro. No caso de João, mesmo sem trabalhar, sempre aparece alguém para lhe dar o básico. E, assim, ele não precisa crescer e aprender a se sustentar sozinho.
Adultos só são responsáveis 100% pelo bem estar dos recém-nascidos. Um adulto saudável tem que ser 100% responsável pelo seu próprio bem estar. Querer ser o responsável pelo bem estar de outro adulto está fora da ordem, não resolve o problema. Na verdade, cria-se mais problema.
No dia a dia, às vezes fazemos coisas bobas pelas outras pessoas que elas poderiam fazer por si mesmas. Por exemplo: Ser o responsável em fazer o outro acordar na hora certa (Tem gente que assume o papel do despertador), ser o responsável por lembrar e levar o remédio para o outro tomar, fazer o prato para o outro… Parece algo inocente, não é mesmo? Mas revela um padrão emocional de comportamento dependente, onde um faz o papel do protetor e o outro o papel da criança.
Não estou querendo dizer que não podemos de vez em quando fazer uma gentileza e acordar o outro que perdeu a hora, ou trazer a comida no quarto. Isso vira uma coisa disfuncional, doente, quando um assume a responsabilidade, o compromisso de agir dessa forma sempre, por alguém que pode fazer isso por si só.
Para ajudar Adriano a se libertar, fizemos um trabalho emocional profundo utilizando a EFT (Técnica para Autolimpeza Emocional – Clique Aqui e solicite o Manual Gratuito para aprender a eliminar emoções e pensamentos negativos em minutos!) para dissolver os sentimentos de culpa, pena, tristeza e obrigação para com o irmão. Assim, ele pôde ficar em paz e compreendeu que a melhor forma de ajudar seu irmão era deixar que ela passasse pelo que está passando, colhendo as consequências da sua falta de iniciativa para a vida. Quem sabe assim um dia ele desperte. E, mesmo que nunca haja esse despertar, Adriano poderá ficar em paz mesmo assim. Essa compreensão que ele teve não foi algo apenas racional. Ao dissolvermos todos os sentimentos negativos em torno da questão utilizando a EFT, surge uma paz e uma certeza interior daquilo que é para ser feito e, assim, se consegue agir de forma natural.
É importante deixarmos que as pessoas colham as consequências negativas de seus atos. Se fizermos de tudo para remover essas consequências para o outro, estaremos tirando desta pessoa sua oportunidade de aprender.
Um forte abraço!
André Lima.
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E quando no lugar do irmão, é a mãe que suga até a nossa alma, não evolui, só decai e cada vez mais se torna um peso?
Ótima explicação
Fez muito sentido pra mim. Gratidão!
Gostei.
Texto de um grande aprendizado.
Gostei muito!!!
É o nos acontece quando chegamos.na madureza da vida cheios de traumas.
Abraços e muito obrigada!
André lima, como sempre me dando uma ajuda no momento mais angustiante de conflitos nos quis a gente mergulha de vez em quando . Obrigada amigo!!!!!! Fico devendo mais esta. Devolvo um pouco, desejando que estas ajudas sejam recebidas por todo e qualquer irmão que estejam em conflitos, sejam estes ou outros, através de você, grata . Luz e paz !!!!!!!!!
eu criei o meu filho assim, fazendo o prato e ainda faço até hoje e levo no quarto. Ele encontrou uma pessoa que quer ser protetora também, eu ouvi quando ela disse pra ele que vai bancar o casamento. Ele é muito imaturo ainda e vai morar aqui perto de minha casa. Vou deixar ele quebrar a cabeça, mas tenho muito receio de que ele possa se dar mal na vida, sendo que fiz de tudo para vê-lo formado e independente.
Quero usar a técnica da EFT para me desligar desta relação doentia, uma vez que não tenho culpa das atitudes tomadas por ele. Um dia ele verá que tenho razão e acredito que vai se arrepender das coisas que me disse.
Parabéns pelo excelente texto, André.
Já vivi o papel de “protetor” e me sentia exatamente como descreveu.
Apenas depois de muitos anos, consegui me libertar e libertar “os protegidos”, que agora caminham com suas próprias pernas.
Grata por seu trabalho.
muito bom;
ANDRE,isso aconteceu muito comigo, cuidar dos uotros, realmente naõ e facil, eu ja mudei minha vida, por causa dessa h istoria de ajudare hoje estou perdendo ate minha auto estima, naõ me reconheço mais naõ vou dizer que sou infeliz mas tambem naõ tenhon a vida que gostaria e muito dificil se desvencilhar de certos problemas, sei que temos que ajudar quem precisa de nos ,mas tem gente que suga tudo da gente
André adoro, todos os seus posts, sou fã do seu trabalho, ele tem sido altamente valioso para mim. Gostaria de entrar em contato com você, pelo telefone ou e-mail, seria possível você me passar esses contatos? Procurei por aqui e não encontrei nada por isso uso essa parte do comentário para tentar esse contato. è muito importante para mim, antecipadamente agradeço sua resposta. Um grande abraço.
Tua abordagem é de fato o que ocorre na maioria das vezes e as pessoas envolvidas nem percebem esta relação “doentia”. grata pela tua disposição em partilhar teus conhecimentos! valeu!
Gostei muito, veio ao encontro de um problema que estou enfrentando no momento e me esclareceu bastante. Obrigada!